Nos últimos meses, a mídia vem dando um grande destaque para a infertilidade conjugal e a medicina reprodutiva. Este assunto vem sendo explorado de forma sistemática em diversas revistas de saúde, bem como em diversos programas de televisão de grande alcance populacional, como as telenovelas. Recentemente, a novela global Fina Estampa trouxe muita polêmica ao retratar um universo complexo e eticamente condenável sobre os tratamentos de reprodução assistida.
Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida
Mas o que realmente é infertilidade e quando o casal deve procurar ajuda especializada? A infertilidade é definida como a ausência de gravidez após 1 ano de relações sexuais frequentes e bem distribuídas ao longo do ciclo menstrual, sem o uso de qualquer método contraceptivo. No mundo, cerca de 15% dos casais encontram dificuldades para obter uma gravidez natural, necessitando de uma ajuda especializada. Por mês, a chance de um casal engravidar é em torno de 15 a 18%. Cumulativamente, cerca de 88% dos casais alcançam a gravidez dentro do primeiro ano de tentativas. Portanto, casais jovens têm a indicação de procurar ajuda especializada quando após um (1) ano de tentativas a gravidez não aparece. Para casais com esposas acima de 37 anos, a ida ao especialista em Reprodução Humana pode ocorrer após um período de 6 meses de tentativas sem sucesso, pois após esta idade há uma piora nas chances de uma gravidez espontânea, acentuando-se drasticamente após os 40 anos de idade.
Médico Convidado
Dr. Daniel Suslik Zylbersztejn(CRM 131531)Especialista em Reprodução Humana com título de Doutor pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Médico do Setor Integrado de Reprodução Humana da UNIFESP e Médico da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva – CPMR
Vários são os fatores que levam o casal a se deparar com a dificuldade de engravidar. Ao contrário do que muitos pensam, a origem da infertilidade é bem distribuída, sendo 30% de causas exclusivamente femininas, 30% de causas exclusivamente masculinas e 40% de causas mistas, ou seja: tanto a mulher quanto o homem apresentam simultaneamente alterações (muitas delas leves) que levam ao quadro de infertilidade. Portanto, a avaliação do casal infértil pelo especialista deve contemplar o casal desde o início, sendo de vital importância o comparecimento do casal nas consultas durante todo o período de avaliação. O especialista em infertilidade, por sua vez, deve apresentar um amplo conhecimento de doenças e fatores de agravo à fertilidade do casal, estando tecnicamente preparado para abordar tanto os aspectos femininos quanto masculinos da infertilidade.
A avaliação inicial do casal infértil consiste basicamente, além do exame físico, de exames de sangue para o casal, exames de imagem (como o ultrassom transvaginal e a histerossalpingografia) para as mulheres e o espermograma para o homem. Embora a gama de exames seja variada, todos podem ser realizados durante um ciclo menstrual, estando a grande maioria dos casais apta ao tratamento entre 30 a 45 dias da primeira consulta.
O tratamento
O tratamento para alcançar a fertilidade é dependente do potencial reprodutivo que o casal apresenta. O uso de uma medicação via oral capaz de restaurar a fertilidade feminina consegue beneficiar uma minoria dos casos de infertilidade, geralmente relacionados a leves alterações na ovulação (disovulia). Os ginecologistas gerais geralmente tentam esta medida antes de enviarem o casal para o especialista em reprodução assistida. Muitas destas pacientes encaminhadas podem se beneficiar com o tratamento de inseminação intrauterina (IIU). Neste tratamento ocorre a necessidade do uso de medicamentos hormonais injetáveis para estimular o ovário, sendo o procedimento de inseminação realizado na própria clínica e sem necessidade de qualquer tipo de anestesia. Esta técnica alcança taxas de gravidez de até 30%, lembrando que sempre devem ser respeitados dois critérios para a indicação correta desta técnica: a mulher deve apresentar um trato reprodutivo íntegro e funcional (confirmado pelo exame de histerossalpingografia) e o homem deve ter um espermograma normal.
Quando mais de duas tentativas de IIU fracassam ou o casal apresenta um quadro mais grave de infertilidade, a fertilização in vitro – FIV – (ou popularmente conhecida como bebê de proveta) costuma ser indicada. Casais com infertilidade de longa duração, mulheres com endometriose profunda (leia mais), presença de obstrução tubária, disovulia grave, homens com pouca ou nenhuma produção de espermatozoides são os que se beneficiam desta técnica. Quanto mais complexo for o tratamento proposto, melhores são as chances de um casal obter a gravidez. Desta forma, a FIV tem maiores chances de sucesso do que uma IIU, alcançando 40 a 45% de gravidez por tratamento. Aproximadamente 60% dos casais engravidam após a terceira tentativa de FIV. Ao contrário da IIU, a FIV exige que a paciente seja submetida a uma anestesia/sedação de cerca de 15 a 20 minutos, tempo necessário para a realização da punção ovariana guiada por ultrassom para a captação dos óvulos. Este procedimento é extremamente seguro, com baixos riscos de complicações quando realizada por profissionais experientes. No mesmo dia da punção ovariana ocorre a fertilização dos óvulos no Laboratório de Embriologia e cerca de 3 a 5 dias após a paciente retorna para a Clínica ou o Hospital para receber os embriões.
A duração do tratamento de FIV varia de acordo com a resposta ovariana do paciente ao estímulo hormonal, em geral durando cerca de 12 a 15 dias. Em linhas gerais, ao redor do 15º dia do início do tratamento a esposa receberá o embrião que está sendo preparado no laboratório, em um processo chamado de transferência embrionária.
Ajuda psicológica
Tanto a infertilidade quanto o próprio tratamento, seja de baixa complexidade (coito programado, inseminação intrauterina) ou alta complexidade (fertilização in vitro), podem gerar um estado de ansiedade, estresse e até mesmo um estado de depressão para o casal. Nestes casos, o trabalho especializado de psicólogas é de fundamental importância para melhorar a qualidade de vida do casal e, como consequência, auxiliar no sucesso do tratamento.
Os tratamentos de reprodução humana, antes tidos como pouco acessíveis devido aos altos valores envolvidos, agora estão ao alcance de grande parte da população brasileira. Ao procurar por clínicas de medicina reprodutiva, os casais devem estar atentos aos profissionais que se destacam nesta área e que estão em constante evolução do conhecimento científico. Estes especialistas em infertilidade estão geralmente vinculados aos grandes Centros Universitários, comprometidos tanto com o treinamento de novos especialistas quanto com a pesquisa de assuntos relacionados à medicina reprodutiva.