É notório que houve um aumento na realização de cesarianas no Brasil, contrariando as recomendações do Ministério da Saúde, mas, por quê?
Com tantos recursos médicos e hospitalares à disposição, mulheres grávidas e alguns obstetras sentem-se mais seguros e/ou tranquilos em optar por um parto operatório programado (cesárea) _ às vezes agendado para data bastante anterior ao término da gestação (data provável do parto, calculada a partir da última menstruação ou por ultrassonografia realizada precocemente na gestação) ou seja, 40 semanas.
É importante ressaltar que o feto ganha bastante peso e acaba de desenvolver sua capacidade pulmonar justamente nas últimas semanas da gestação. A menos que haja alguma intercorrência clínica que coloque a grávida ou o feto em risco, nenhum parto deveria ser agendado para antes de 38 semanas de gestação.
Durante o pré-natal e principalmente neste momento que antecede o nascimento, deve ser abordado o tema do parto com a paciente, explicitando os prós e contras do parto normal e da cesárea. Mas, pela cultura vigente, opta- se pela cesárea sem pestanejar.
A cesárea tem, claro, suas indicações médicas , bem como o desejo consciente da paciente por esta forma de parto, que acredito ser uma indicação a ser respeitada, porém, jamais, aproveitar- se da falta de informação e fragilidade emocional inerente ao momento, privando esta futura mãe da possibilidade de ter um parto normal, se assim o desejar, baseado em relatos tendenciosos, sugestionando esta mulher a escolher a cesárea.
Para diminuir o número de cesáreas, mais do que o governo ou entidades de saúde imporem alertas de saúde, os consultórios e clínicas obstétricas precisam mudar de postura, orientando, alertando e educando gestantes e seus familiares quanto aos riscos de realizar um parto operatório e antecipado.
A cesárea é uma cirurgia que abre e expõe a cavidade abdominal e aumenta o risco de infecção. A recuperação pós-operatória é mais dolorida e exige mais cuidados. A mulher precisa ser tratada com maiores quantidades de antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos do que em um parto normal. Não é raro ocorrerem também dificuldades intestinais.
Parto normal é fisiológico, quer dizer, segue um processo natural. Existem várias evidências e especulações de que o trabalho de parto não é meramente uma atitude física de expulsão do bebê e, sim, uma alteração de padrão hormonal em que há liberação de hormônios pela mãe e pelo bebê, que sinalizam que o momento de nascer está chegando.
Ao passar pelo estreito canal de parto, o tórax do bebê é comprimido; assim, ele expulsa mais facilmente as secreções das vias aéreas, melhorando suas condições para respirar no meio externo, ou seja, fora do útero. Para a mãe, além do aspecto psicológico, da satisfação da mulher em poder dar à luz, a recuperação é mais rápida e são menores as possibilidades de complicações como sangramentos, dor e infecções, por exemplo.
Ao longo da gestação, é possível e necessário que o “casal grávido” se prepare para o nascimento do bebê. Informações, dicas e técnicas podem ajudar o casal a diminuir a ansiedade da espera pelo parto e auxiliam as parturientes a aliviar a dor na hora do trabalho de parto, eliminando ou diminuindo a necessidade da anestesia e, principalmente, evitando a opção prematura por uma cesárea.
A mulher deve participar com lucidez e cooperação da experiência do nascimento do próprio filho. Uma atitude positiva em relação ao parto favorece a ligação imediata entre a mãe e o bebê. O primeiro passo para cultivar essa confiança é saber escolher um obstetra que cuide dela, que a incentive e lhe transmita segurança durante todo o pré-natal.
A missão do obstetra
Nós, obstetras, precisamos investir na popularização de cursos e técnicas específicos para gestantes, ministrados por instituições e profissionais especializados. Uns são mais voltados para os aspectos emocionais do parto, como o medo da dor; outros, para o trabalho corporal e para a discussão dos mitos e tabus que se relacionam ao parto normal, que aterrorizam a população em geral.
Algumas práticas podem ser feitas com orientação médica. As técnicas mais conhecidas são a ginástica holística, a hidroginástica, a ioga, as técnicas de reeducação postural global (RPG), shiatsu. A gestante pode fazer caminhadas. Elas melhoram a capacidade cardiorrespiratória, pois ativam e oxigenam a circulação sanguínea e, como todas as práticas aeróbicas, liberam endorfina – hormônio que neutraliza dores e gera uma euforia estável.
O parto normal deveria ser o desfecho natural da maioria das gestações. Por que não encorajar a mulher a ao menos experimentar o trabalho de parto? Não podemos esquecer que o trabalho de parto é uma caixinha de surpresas, porém, com apoio e monitoramento atento e fazendo bom uso dos recursos hospitalares, podemos surpreender a parturiente e oferecer-lhes uma experiência única, mais saudável e mais natural.
Permita- se esta experiência !