Hipotireoidismo gestacional: quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhor será para mãe e bebê
Até bem pouco tempo atrás, era incomum ouvir falar em hipotireoidismo em grávidas. Estudos recentes, no entanto, revelam que, apesar da baixa incidência, o número de mulheres com hipotireoidismo gestacional vem aumentado consideravelmente. Como todos os cuidados necessários para com a saúde da mulher e, principalmente com a gestante neste período tão importante de sua vida fazem parte da rotina da Clínica Chazan, ressaltamos nesta matéria a necessidade de se fazer um bom pré-natal e, no que diz respeito especificamente ao hipotireoidismo e outros problemas endocrinológicos, conversamos com a doutora Tatiana Millner, médica endocrinologista que periodicamente estará contribuindo com informações em nosso site.
O que é o hipotireoidismo?
Localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo do Pomo de Adão, está a glândula tireóide, responsável pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Estes são substâncias químicas responsáveis pelo gerenciamento de todo o nosso metabolismo. Quando há uma deficiência na ação ou na produção dos hormônios tireoideanos, ocorre o hipotireoidismo, gerando uma lentificação de todo o funcionamento do corpo. “Como se costuma dizer: a tireóide fica preguiçosa”, exemplifica a médica. Entre as consequências, o portador da patologia pode apresentar problemas de crescimento _ em se tratando de crianças _, digestivos (como intestino preso), dificuldade em emagrecer, menstruação irregular, depressão, intolerância ao frio, entre outros tantos ocasionados por essa lentidão do processo metabólico.
Médica Convidado
Dra. Tatiana Hotinsky Millner (CRM 83887 )Médica especialista em clínica médica e endocrinologia e metabologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Em muitos casos, a patologia é assintomática, motivo pelo qual a doutora Millner recomenda às mulheres que desejam engravidar a realização de exame sanguíneo para verificação do nível de hormônio da tireóide já antes da gravidez. “Muitas mulheres são portadoras do hipotireoidismo e só descobrem durante a gestação devido à freqüente falta de sintomas da doença e também porque, quando eles existem, são muito parecidos com o que acontece normalmente com uma grávida: aumento de fadiga, falta de energia, queda de cabelo, unha quebradiça, pele seca. Alterações de memória e concentração também são queixas comuns a quem tem hipotireoidismo”, cita Millner.
Segundo a especialista, além da pré-disposição genética, que é um dos fatores determinantes para contração da doença, há indicativos de que nos dia atuais “nosso ambiente _ solo, ar, alimentos _ esteja com um nível elevado de iodo. De alguma forma, estaríamos incorporando esse iodo, gerando alterações sérias no sistema imunológico humano e em todo seu metabolismo”, conclui.
Entendendo um pouco mais
A tireoidite é uma inflamação da tireóide e se manifesta de três formas, sendo a Tireoidite de Hashimoto (que descreveremos aqui) a mais comum. Também chamada de tireoidite auto-imune, ela acontece quando o corpo volta-se contra si, em uma reação auto-imune, produzindo anticorpos que atacam a tireóide. “É comum se verificar a presença de Tireoidite de Hashimoto em avó, mãe, tia e filha, mostrando o caráter genético da moléstia. Admite-se que sucessivas gravidezes e partos tenham papel desencadeante na Tireoidite de Hashimoto, assim como tabagismo, excesso de iodo na alimentação ou consumo de remédios que contenham iodo”, explica a doutora Tatiana Millner, acrescentando que “portanto, excesso de iodo é fator desencadeante” da doença.
A causa da Tireoidite de Hashimoto é um “erro” do sistema imunológico da pessoa, como afirma a médica: inicia-se a agressão por auto anticorpos dirigidos CONTRA a glândula tireóide. Todos nós temos uma glândula tireóide que não é alvo de ataque por anticorpos. Mas após exposição a fatores desencadeantes (iodo, partos, fármacos) e tendo os genes predisponentes, o sistema imunitário inicia a fabricação de anticorpos contra a glândula tireóide. Isto se chama de auto agressão, culminando com destruição parcial ou total da glândula.
Uma vez instalada uma doença de auto-agressão, o sistema imunitário inicia a produção de anticorpos contra a tireóide e o processo patológico NÃO CESSA. O corpo humano tem o que se chama de MEMÓRIA IMUNOLÓGICA, isto é, tem registrado os agentes bacterianos (por exemplo) que nos agridem e são combatidos por anticorpos específicos. No caso da Tireoidite de Hashimoto a agressão dirigida contra a tireóide é contínua, e os anticorpos sempre são produzidos.
Nas grávidas
Pois bem, nas mulheres gestantes, Millner destaca que há toda uma alteração tanto do sistema imunológico quanto hormonal, advindos da própria condição em que a mulher se encontra. Como atualmente há campanhas de incentivo a exames constantes por parte da gestante, detecta-se mais casos de hipotireoidismo gestacional. “É importante frisar que, diagnosticada e tratada precocemente, a doença fica sob controle. O médico calcula a dose exata de hormônio que a mulher deverá tomar para que gestação e feto desenvolvam-se normalmente. Principalmente no primeiro trimestre, quando ocorre a formação neurológica do bebê”, salienta a endocrinologista.
Caso a moléstia seja detectada tardiamente na gestante, o bebê pode vir eventualmente a sofrer deficiências neurológicas e, infelizmente, há aumento de ocorrências de morbidade. Por isso, para quem já sofre de hipotireoidismo, o ideal é a realização periódica de exame hormonal e a consequente reposição, orienta a médica, garantindo assim que tudo ocorra bem.
A dose da suplementação do hormônio tireoideano, chamado levotiroxina, varia de acordo com o grau de deficiência de sua produção pela tireóide.
Como o hipotireoidismo não tem cura, após o nascimento da criança, o médico deve reavaliar a paciente para prescrever a dose adequada do hormônio.
Em relação à prevenção, enquanto não se conhece os genes que predispõem à Tireoidite crônica, Millner acredita que o melhor a fazer é recomendar às pessoas que têm esta doença na família, o exame minucioso da tireóide, anualmente, principalmente em mulheres após os 40 anos.
Estudos mostram que o hipotireoidismo acomete oito vezes mais mulheres do que homens, portanto: mulheres cuidem-se!