Atualmente praticada em mais da metade dos partos normais, a episiotomia já não é mais considerada regra. A tendência é que seja feita quando houver real necessidade. Entenda porquê.
Episiotomia é um procedimento cirúrgico usado em obs¬tetrícia para aumentar a abertura vaginal com uma incisão no períneo ao final do segundo estágio do parto vaginal e necessita de sutura ao término do parto. Embora tenha se tornado o procedimento cirúrgico mais comum do mundo, foi introduzida sem muita evidência científica sobre sua efetividade. Por isso, mundialmente, há uma intenção de torná-la um procedimento restrito e não mais rotineiro, uma vez que esse uso pode levar a uma série de complicações, dentre as quais se destacam: infecção, hematoma, rotura de períneo de 3º e 4º graus, dispareunia ( dor à relação sexual).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) sugeriu que uma boa taxa de referência de episiotomia, sem prejuízo materno ou fetal, deve ser de 10%; apesar disso, outros dizem que a taxa ideal é de 15%. Percebe-se que não há consenso em relação à taxa ideal de utilização e por isso ainda é tão variável entre os países; provavelmente esse fato é justificado porque existem diferenças não só culturais ou de formação profissional, mas também anatômicas (pélvicas e perineais).
Indicações de episiotomia
Não há, na literatura, a recomendação de abolir a episioto¬mia de uma forma geral, mas de restringi-la às pacientes com relação ao custo-benefício evidente. A OMS, em manual de assistência ao parto, aconselha a realização da episiotomia em situações com sofrimento fetal, progresso insuficiente do parto e lesão iminente de 3º grau do períneo (lesões que afetam esfíncter externo do ânus).
Recente diretriz do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) estabeleceu que os melhores dados dis¬poníveis não apoiam o uso liberal ou rotineiro de episiotomia, porém destacam sua utilidade nos partos laboriosos e naqueles onde existe grande chance de lesão perineal.
A incisão da episiotomia, quando necessária, pode ser médio-lateral e mediana. A episiotomia médio-lateral é a mais comumente realizada, principalmente na América Latina e Europa, enquanto a incisão mediana é mais utilizada nos Estados Unidos, sendo considerada de maior facilidade de suturação e menor associação com dor no pós-parto e dispareunia. Todavia, é mais relacionada com lacerações do 3º e 4º graus.
Embora todas as evidências indiquem que o uso restritivo da episiotomia deva ser incorporado em todos os serviços, verificou-se, principalmente na América Latina, que a sua utilização é muito elevada, podendo atingir uma frequência de até 90%.
Durante o pré-natal, massagens
Apesar de suas indicações serem muitas vezes subjetivas, é importante salientar que a primiparidade e a prematuridade não são indicações. Devemos considerar que a musculatura do assoalho pélvico também tem grande capacidade de distensão e que existe diferença dessa propriedade de uma parturiente para outra, o que determina a importância de avaliação minuciosa.
Um preparo, durante a gestação, da musculatura do assoalho pélvico, incluindo massagem e exercícios específicos como alongamento, poderia aumentar sua capacidade de distensão e elasticidade. Já que existem poucas contraindicações ou efeitos colaterais, a massagem perineal deveria ser ensinada a todas as gestantes.
Acreditamos que a decisão para a realização do procedimento deva ser compartilhada com a pa-ciente, exceto em condições em que seus benefícios justifiquem amplamente sua realização.